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Agora vamos decolar em Ciência e Tecnologia?

Tome M. Schmidt

O mundo está dizendo que o Brasil deu uma guinada para a extrema-direita. Posições políticas extremas sempre são preocupantes, em particular na Ciência, por ser uma atividade que envolve parcerias de muitos cientistas, independente das posições políticas de seus governos. Crescimento econômico, social e cultural, como desejado pela nova equipe do governo, está diretamente ligado aos avanços que um país alcança em Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI). O que esperar desse governo de direita e suas alianças internacionais para os avanços necessários em CTI para colocar nosso país no patamar de que almejamos de um país melhor e próspero?

Nosso ministro de Ciência Tecnologia Inovação e Comunicação (MCTIC), Marcos Pontes, é bem formado, conhece os mecanismos de avanços tecnológicos necessários para um país decolar. Mas o orçamento deste Ministério sempre foi pífio e não há sinais de mudanças. Há poucas outras fontes de financiamento em CTI no país. Algumas fundações estaduais tem melhorado, porém outras tem reduzido seus recursos, pois poucos estados estão com saúde financeira.

Evidente que o simples investimento em CTI indiscriminado não é a solução, tivemos um exemplo recente de investimento maciço numa única direção, sem um planejamento a médio e longo prazo, que trouxe e trará poucos resultados para o país, o conhecido Ciências Sem Fronteiras, que foi mais um projeto social que de CTI. Mais do que simplesmente investimento em CTI, necessitamos de uma política de CTI. E esta não vem apenas do MCTIC, vem do estado como um todo. Uma estratégia de governo para alcançar os objetivos desejados, que contemplam as propostos de campanha, por exemplo. Existem muitos exemplos de sucesso já feitos neste país de investimento planejado e focado. Vou citar apenas um aqui, proposta de vacina contra o vírus da Zika, desenvolvido por pesquisadores brasileiros e americanos [1]. Com um investimento de alguns milhares de reais apenas, já temos avanços tais que testes já estão sendo feitos em humanos no Brasil da vacina contra o vírus da Zika [2], mais interessante, com tecnologia desenvolvida aqui no Brasil (veja artigo publicado na Nature Communications [3]). Não é apenas o resultado imediato que é a vacina, mas muito mais do que isso, dominar a tecnologia de vacinas, principalmente em doenças tropicais, onde o primeiro mundo não tem muito interesse. Logo poderemos ter outras doenças, e teremos pessoal qualificado para atacar o problema. É um exemplo de investimento que traz redução de custos ao SUS, melhora de qualidade de vida da população, e mais do que isso pode gerar dividendos, com a venda da vacina a muitos outros países, possivelmente até não tropicais.

Mas, vamos voltar ao ponto de partida, um governo mais a direita focado em relacionamentos com países exemplos de investimento em CTI (EUA e Israel, por exemplo) pode ser um passo importante, não por eles estarem mais a esquerda ou a direita, mas sim por serem exemplos de investimento em CTI. Talvez mais delicado seja negociar com uma grande potência mundial, em particular a grande aproximação com EUA, comparado com um país menor. Ao mesmo tempo que grandes potências tem muito a oferecer, ela também tem um poder econômico e de retalhação que pode enfraquecer os acordos. Por isso é papel para especialistas em CTI, e que nunca pode ser visto como algo de curto prazo. Não podemos correr o risco de sermos apenas mão de obra, fornecedor de matéria prima ou mesmo fornecedor de pessoal altamente qualificado para um mercado que não nos traz dividendos. Precisamos de uma negociação inteligente, para não sermos subservientes e sim parceiros, como a da vacina contra a Zika citado acima, e nem tanto para o negócio da Embraer (mas isso é assunto para outra ocasião). Pesquisa científica tem que estar próxima do setor produtivo, envolvendo empresas, seja particular mista ou estatal, aliás esta última é uma tradição nossa em sturtups, temos bons exemplos como Petrobrás, Embraer, Eletrobrás, Vale, etc. Não importa se sejam posteriormente privatizadas ou não, nós sabemos como começar uma boa empresa a muito tempo. Olhando para estas empresas também aprendemos que pesquisa científica isolada pode servir para formação de pessoal qualificado, que é importante para o país, mas se vinculada a setores de produção, leva a melhora efetiva da economia e, consequentemente aumento da arrecadação de impostos, melhora da qualidade de vida das pessoas, etc. Ou seja, mais produção, mais arrecadação, mais investimento em CTI, mais produção, ... assim, o motor econômico entra em funcionamento e o esperado decolar de nossa economia pode acontecer e durar um longo período.

Exeter (UK), 06 de janeiro de 2019.


 
 
 

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