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  • Foto do escritorTome M. Schmidt

Embraer & Boeing: O negócio que joga no lixo um investimento de 50 anos


No próximo dia 19 de agosto de 1919 a Embraer completa 50 anos. Do ponto de vista da Ciência Tecnologia e Inovação (CT&I), a Embraer é bem mais antiga. Pois tudo que vem de investimento em CT&I tem seu tempo de amadurecimento. Com o fim da 2a Guerra Mundial começa a história da Embraer. Em 1940 é traçado um projeto de uma indústria aeroespacial nacional sob o comando do Marechal Casimiro Montenegro Filho. Inicialmente por interesses bélicos, afinal uma grande Guerra acabou, e teve outra a menos de 30 anos antes (1a Guerra Mundial).

Na Argentina criou-se diretamente uma indústria de aviões, a Fabrica Argentina de Aviones nunca decolou e hoje está praticamente falida. O projeto brasileiro foi muito diferente, e teve uma história de sucesso. Inicialmente foi criada uma escola de aviação, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 1950, que hoje é uma escola de engenharia de excelência. Aliás, formar gente capacitada é uma das nossas melhores habilidades em muitas áreas da ciência, basta olhar o número de cientistas brasileiros espalhados pelo mundo e nossa produção científica, apesar dos poucos recursos disponíveis.

Além da formação de pessoas capacitadas, o Brasil tinha uma política pública para que a Embraer pudesse existir e assim, com investimentos adequados e com bons profissionais na área começamos a projetar aviões. Em 1969 tínhamos não somente um projeto, mas a concreta realização, com o avião chamado Bandeirante. Lembramos aqui que os primeiros aviões da Embraer, em particular o Tucano e o Brasilia, foram muito criticados pela imprensa americana, classificado como os mais suscetíveis a acidente. Entretanto, o que temos hoje, é que o avião mais inseguro do mundo é o Boeing 737, que certamente muitos de nós já temos voado nele. Sem falar do recente caso do Boing 737 Max que custa mais de 100 milhões de dólares a unidade e teve que ser retirado de circulação por questões graves de segurança.

Assim, nos últimos 50 anos a Embraer tem sido uma referência de qualidade e segurança aeroespacial para aviões de médio e pequeno porte. Ela tem um faturamento médio de mais de 20 bilhões de reais anuais e, no momento conta com encomendas da ordem de 65 bilhões de reais. Se levarmos em conta a formação de pessoal altamente qualificado, transferência de tecnologia, segredos tecnológicos, dentre outros, os ganhos para o Brasil são muito maiores do que isso e fica difícil de colocar uma cifra.

Modelo E190 vendido para a British Airways'.

Modelo E190 vendido para a British Airways'.

Com esse histórico, vem o “grande negócio” realizado pelo governo brasileiro: cerca de 20 bilhões de reais para que a Boeing fique com 80% da Embraer. Parece piada. 20 bilhões, que a Embraer fatura em um único ano! Vale ressaltar que há no mundo apenas 3 empresas grandes aeroespaciais: Boeing (1916), Airbus (1970, fundida com a Bombardier em 2017) e Embraer. Ou seja, nossa Embraer é a 2a mais antiga em operação no mundo e a 3a maior. Com a polarização Entre Boeing e Airbus é a melhor hora de crescer ainda mais sozinha.

A Embraer já passou por situações complicadas na história, e agora é uma oportunidade única e não hora de recuar e ser apenas coadjuvante. Tem mercados abertos para ela, sem falar que o avião Legacy da Embraer é considerado o melhor jato da categoria do mundo atualmente.

A Embraer é o exemplo mais emblemático de investimento em CT&I que traz retorno a sociedade. O faturamento da Embraer em um ano equivale ao orçamento de 102 anos para manutenção do ITA. Sem levarmos em conta geração de emprego e impostos, por exemplo. Mas o que temos de mais valioso é a “escola”, a formação de pessoal altamente qualificado, engenheiros, especialistas, mestres, doutores.

A simples presença de uma empresa bem sucedida no país é motivação para muitos excelentes estudantes buscar cursos de engenharias, não apenas no ITA, mas também em outras instituições. Aliás esta é a grande motivação da Boeing, captação de excelentes engenheiros brasileiros.

Apesar dos poucos recursos em nossas universidades, nossos alunos são muito bem formados, melhores que muitos centros de primeiro mundo. Entregar esta mina para que? Não queremos ser primeiro mundo? Jogar um investimento de mais de 50 anos no lixo? Não precisamos arrecadar impostos, exportar, criar novas tecnologias, emprego?


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